Proibidos no Brasil pela Agência Nacional de Agência Sanitária (Anvisa), os cigarros eletrônicos ainda podem ser comprados na internet e em mercados informais. O uso crescente preocupa profissionais de saúde por existir, frequentemente, uma noção popular de que esses produtos seriam menos prejudiciais que os cigarros convencionais. Com base nisso, estudantes da iniciação científica do curso de medicina, orientados por pesquisadores da UFRN, publicaram pesquisa que elucida o potencial dos cigarros eletrônicos em desenvolver diversos tipos de câncer.
O estudo, intitulado Impact of e-cigarettes as cancer risk: A protocol for systematic review and meta-analysis, foi conduzido por pesquisadores da UFRN e do Instituto de Ensino, Pesquisa e Inovação da Liga Contra o Câncer (IEPI/LIGA). A pesquisa aponta que há um problema na substituição do vício em fumar cigarros convencionais por eletrônicos, já que esses produtos possuem uma taxa de retenção de nicotina de cerca de 99%, em comparação ao tabaco.
Os riscos podem ser explicados pelo aquecimento das substâncias que compõem esses dispositivos, além do poder viciante da nicotina. O aquecimento dos cigarros eletrônicos produz hidrocarbonetos cancerígenos e outras substâncias tóxicas para o organismo, como níquel e óxido de etileno. Esses elementos estão relacionados ao surgimento de neoplasias pulmonares e sinusais, linfomas, mieloma múltiplo e leucemia.
De acordo com o coordenador da pesquisa, Irami Araújo Filho, o trabalho servirá como um protocolo para futuras pesquisas e estudos sobre o tema. Irami Filho, professor do Departamento de Cirurgia do Centro de Ciências da Saúde da UFRN, explica que as próximas etapas serão conduzidas pelos próprios estudantes da iniciação científica, abordando tipos específicos de câncer relacionados ao uso de cigarros eletrônicos.
Para isso, o protocolo rege duas metodologias: o estudo de coorte e o estudo de caso-controle. No primeiro, é analisada a relação entre fatores de riscos e o desenvolvimento de enfermidades em certos grupos. Já no estudo de caso-controle, compara-se um grupo que teve um desfecho — nesse caso, o câncer — com um grupo que não o teve, para entender a influência da exposição ao cigarro nos dois grupos. Nas duas metodologias, as pesquisas serão feitas com pessoas maiores de 18 anos, usuários ou não de cigarros eletrônicos, que foram diagnosticados com câncer.
Segundo o professor Irami Araújo, atualmente há mais de 70 alunos na iniciação científica, de diversas universidades e instituições de ensino. A perspectiva é de que, com o protocolo, sejam desenvolvidas mais pesquisas, resultantes em outros artigos, que tragam à tona problemáticas do uso do cigarro eletrônico em diversas enfermidades.
Participaram também do estudo, como condutores, os pesquisadores Edilmar de Moura Santos (IEPI/LIGA), Amália Rêgo (IEPI/LIGA) e Kleyton Medeiros (IEPI/LIGA).
Fonte: Tribuna do Norte.