Novo espaço da Feira do Milho gera reclamações de comerciantes e clientes

O novo local da tradicional Feira do Milho tem causado insatisfação entre clientes, que precisam se arriscar em meio ao piso de lama, e  por parte dos vendedores, que reclamam de baixa nas vendas, conforme constatado pela reportagem da TRIBUNA DO NORTE, na manhã deste sábado (10). A Feira do Milho saiu do estacionamento do Mercado da Agricultura Familiar, na esquina das avenidas Capitão-Mor Gouveia e Jaguarari, para um terreno no Centro Administrativo, às margens da BR-101. Segundo o Governo, o motivo foi o espaço do antigo local, que não comportava mais as 15 barracas dos comerciantes e o movimento de caminhões.

Comerciantes e clientes da Feira circulam em meio à lama e poças causadas pelas últimas chuvas
Alex Régis

Após as chuvas dos últimos dias, o piso de areia do local se tornou um verdadeiro lamaçal, com diversas poças, o que impede a circulação de clientes. Diante das reclamações, o coordenador de acesso ao mercado da  Secretaria de Estado de Desenvolvimento Rural e da Agricultura Familiar (Sedraf), Emerson Inácio, diz que ouviu sugestões de comerciantes e planeja uma ação emergencial para corrigir o problema. “Estou em contato com o secretário Alexandre e com o pessoal da Infraestrutura para ver uma solução. Um engenheiro está vindo avaliar a possibilidade de colocarmos uma camada de brita”, diz.

Entre os comerciantes, a reclamação é unânime. A vendedora Sheila Bezerra, de Santana dos Matos, diz que os clientes não estão nem entrando mais. “A gente foi pego de surpresa porque lá na esquina da Mor Gouveia muita gente já conhecia. Mudaram para cá de uma hora para outra e a infraestrutura é essa. Ontem deu uma chuva e já ficou assim, imagina com uma semana chuvosa. Não tem condições. O cliente nem entra mais, vê a lama e volta”, conta a vendedora que chegou a machucar o pé por causa da lama.

O produtor Ricelle Sales reclama também do valor cobrado para colocar uma barraca no local e cita desorganização. “Nesse ano a gente está pagando R$ 1.200 por 30 dias por um espaço como esse, sem estrutura nenhuma. Eu venho da roça com a mercadoria e não tem nem um banheiro para o agricultor tomar banho. Só tem um banheiro químico, que está sem condições. Lá no canto antigo era R$ 1.000. Ou seja, a gente está pagando mais por menos. Isso é um absurdo completo”, desabafa.

Moradora do bairro Cidade da Esperança, Socorro Paiva diz que estava acostumada a comprar na antiga Feira do Milho e não aprovou a mudança. “Está péssimo. Só venho porque preciso  manter a tradição. A gente gosta de comer uma canjica, uma pamonha, nesse período, mas está horrível. Os próprios vendedores falam isso e pedem desculpas para a gente. Teve uma que até torceu o pé. É um perigo. Espero que resolvam logo isso”, comenta uma das poucas clientes que se arriscou a entrar no espaço.

Socorro Paiva não aprovou a mudança: “Está péssimo. Só venho porque preciso manter a tradição”
Alex Régis

Representante da Sedraf, Emerson Inácio explica que o local foi preparado como uma alternativa de última hora para evitar que a Feira não acontecesse neste ano. Isso porque a Cooperativa Central de Comercialização da Agricultura Familiar, que faz a cogestão do Mercado, comunicou que não teria condições de sediar a Feira do Milho a poucos dias do início do evento. “Lá o estacionamento tem um espaço limitado. Não cabe mais 15 barracas lá. É um mercado público, com muitas lojas lá dentro e que não comporta o movimento de carros e caminhões”, diz.

“No período da Feira do Milho não tinha mais espaço para estacionar o carro. Ali no entorno não tem estacionamento nas vias de acesso. A gente percebeu isso e a feira não parava de crescer. Gerava muito transtorno. O período que foi informado a gente foi recente, faz um  mês e a gente avaliou esse local porque é o local onde ficam estacionados os trios elétricos na época do Carnatal. Pensamos que poderia comportar bem o movimento de caminhões e outros veículos, mas tivemos fortes chuvas”, comenta.

Ainda de acordo com a Sedraf, a expectativa é de que representantes do Governo se reúnam na segunda-feira (12) para buscar resolver o problema. Na hipótese mais extrema, a secretária não descarta fazer uma nova mudança de local, mas a decisão será avaliada ao longo dos dias, observando a eficácia das possíveis medidas, como a colocação de britas no piso. A Feira do Milho tem 15 barracas, mas parte das estruturas sequer foi ocupada, justamente por causa das poças no local.

O titular da Sedraf, Alexandre Lima, disse que está empregando todos os esforços para dar suporte aos comerciantes. “Na segunda-feira (12),  estaremos nos reunindo para avaliar e buscar solucionar os problemas surgidos em função das chuvas. Mais uma vez, apoiamos e incentivamos a realização deste tradicional ponto de vendas de milho, principal ingrediente das comidas juninas, que gera uma importante renda extra para as famílias agricultoras nesta época do ano”, declarou.

A feira

A Feira do Milho está funcionando às margens da BR-101, entre a Arena das Dunas e o Centro Administrativo, das 6h às 20h, podendo se estender até às 22h na semana do São João. As barracas ficarão montadas no local por 30 dias, até 8 de julho. Os preços variam de R$ 30 a R$ 40 para a venda de 50 espigas (mão) e R$ 5 para seis espigas avulsas (retalho).

Além do milho em espigas, também são disponibilizadas barracas com comidas típicas das festas juninas. O milho vendido na feira é proveniente de diversos polos produtores do Rio Grande do Norte, como Touros, São José de Mipibu, Vera Cruz, Pedro Velho, Santa Maria, São Paulo do Potengi e Ipanguaçu.

Neste ano, a expectativa é de que o evento movimente cerca de R$ 1,5 milhão, de acordo com projeções do Governo do Rio Grande do Norte. “O governo do RN tem desenvolvido políticas públicas para fortalecer a agricultura familiar, que produz alimentos saudáveis para a nossa sociedade, colocando comida na mesa do povo potiguar, nordestino e brasileiro. Ao consumir esses produtos, estamos fortalecendo e resgatando as tradições dos festejos juninos, que estão intimamente ligadas à agricultura familiar”, enfatizou Alexandre Lima, da Sedraf.

Costume

O milho faz parte da cultura brasileira desde antes da chegada de Pedro Álvares Cabral ao país, em 1500. Ao longo do tempo, foi incorporado à dieta dos colonizadores, e novos pratos à base desse cereal foram surgindo. Atualmente, o milho é um dos principais alimentos na mesa do nordestino, presente em pratos como cuscuz, mingau, xerém, mungunzá, canjica, pamonha, pipoca, polenta, bolo, pão, geleia, sorvete, entre outros. Além disso, o milho também está presente em diversos produtos industriais, como óleo de cozinha, bebidas alcoólicas e combustível, devido às suas qualidades nutricionais, que incluem fibras, vitaminas (complexo B e A), sais minerais, açúcares e gorduras.

Fonte: Tribuna do Norte

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