Moradores da zona Norte reclamam de cratera aberta há quase 1 ano

Há quase um ano, moradores da rua Nossa Senhora do Ó, no bairro de Igapó, zona Norte de Natal, são obrigados a conviver com uma cratera aberta na frente de suas casas. A construção de uma galeria de drenagem é executada no local para sanar um problema crônico. Iniciados em julho do ano passado, os serviços ainda não foram concluídos e não têm prazo para entrega, de acordo com a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinfra).

A cratera fica no cruzamento das ruas Nossa Senhora do Ó e Marcílio Dias. Por causa do buraco aberto, os moradores reclamam de mau-cheiro, dificuldade de locomoção, transbordamento de água em dias de chuvas e proliferação de mosquitos. O local é um ponto de passagem de água que vem da lagoa de captação do Panatis e sofre com recorrentes alagamentos.

Jane Cristina, 52 anos, é uma das moradoras que tem casa de frente para a cratera. Ela chega a se emocionar ao relatar os problemas com os quais convive há quase um ano. A mulher cobra atenção da Prefeitura do Natal  e diz que a população local não aguenta mais a condição.

“Por mim, eu já tinha saído daqui porque eu não estou mais aguentando, eu estou tomando remédio controlado. Eu tenho uma neta aqui de três anos, minha mãe idosa de 72 anos, mas ela vai já embora. Vai para Parnamirim porque a gente não quer mais que ela fique aqui, porque está com problema de depressão. É um descaso muito grande”, disse. 

A área interditada fica a meio metro da entrada da casa dela. Por conta disso, o acesso ao local é prejudicado, quando a família precisa sair ou chegar em casa. A família não consegue fazer mudança, porque não há como tirar os móveis, e se preocupa em caso de alguém passar mal dentro de casa, já que a área está interditada para chegada de ambulância ou qualquer outro veículo.

As reclamações de quem mora na região são frequentes, mas crescem nos dias de chuva. Para a construção da galeria de drenagem, a empresa que executa a obra precisou obstruir o escoamento da água que vem da lagoa do panatis, o que acaba sobrecarregando o sistema. Os moradores relatam que, em dias chuvosos, a água transborda dos bueiros e invade as casas.

Como nos outros dias com chuva, a madrugada dessa quinta-feira (15) foi de preocupação para o servidor público Valdomiro Alves, 61 anos. Ele diz que não consegue dormir quando começa a precipitação e fica em estado de alerta. No dia, ele acordou às 3h e ficou com medo da casa ficar alagada, o que não aconteceu dessa vez, mas ele revela prejuízos anteriores.

“Eu perdi muitos móveis por causa disso aqui. Nós queremos que eles terminem essa obra aqui para que a gente fique numa boa e viva em paz. Enquanto não fizerem essa galeria, é sofrimento para mim e para a população toda aqui”, relatou o idoso. Os moradores chegaram a providenciar muretas nas entradas das casas para se prevenir da invasão das águas.

Mesmo com a situação, o vínculo criado com o lugar onde nasceu e cresceu faz Valdomiro Alves dizer que só sai do local em caso de interdição do imóvel. É semelhante à condição de Jane Cristina, mas ela diz que a demora para a resolução do problema a faz pensar em se mudar.

“Eu cheguei aqui com 16 anos, hoje estou com 52, e pela primeira vez eu penso nisso. Nós já passamos por muitas coisas por aqui, mas essa agora está nos deixando em pânico”, declarou a mulher.

Moradores se organizam em busca de solução

A demora para conclusão da obra fez com que os moradores se organizassem em busca de solução. Paulo Victor, líder comunitário, diz que a demanda é antiga e que busca respostas do poder público, mas não tem retorno. Ele afirma que tenta e não consegue reunião com a Seinfra para discutir a obra.

“O maior problema é porque a secretaria não escuta a gente líder comunitário e a população. A não ser que a gente pressione, chame os veículos de comunicação, vá para televisão ou redes sociais”, disse ele.

José Barbosa, 43 anos, também morador da região, reclama da qualidade da obra. Ele recorda que serviços já foram feitos anteriormente, mas o buraco voltou a se abrir. “Aqui, os moradores estão há mais de ano sem conseguir colocar um carro na garagem. Isso desvaloriza os imóveis. Em si, isso degrada toda uma comunidade, é isso que essa gestão atual tem feito com a gente”, afirmou. 

Problema antigo

Para entender a situação atual da rua Nossa Senhora do Ó, é necessário voltar para 2019. A cerca de 50 metros da obra instalada atualmente há outra cratera, na rua Santo Inácio de Loiola, que foi aberta, primeiramente, há quatro anos, após uma obra de drenagem. 

No ano passado, mais uma vez o buraco se abriu devido às chuvas. O serviço atual, tocado pela Prefeitura do Natal, foi planejado para colocar fim ao problema recorrente, com a criação de uma galeria para dar melhor escoamento à água. Com isso, foi necessário a abertura da rua Nossa Senhora do Ó. A Seinfra diz que a obra segue sendo executada pela empresa contratada – Coastal Engenharia -, mas não há prazo para conclusão.

A localidade, no bairro do Igapó, é um ponto de declive na região e recebe águas da lagoa do Panatis e de uma área de São Gonçalo do Amarante.

Com o aumento da demanda ao passar dos anos, a drenagem precisou de adequações. Para fazer a obra, a rede de drenagem foi obstruído no local, já que a construção necessita da área seca. Porém, as chuvas de junho sobrecarregaram a vazão da água na região, e o bloqueio teve de ser desobstruído nessa quinta-feira.

A Seinfra diz os serviços ficam suspensos no período das chuvas, mas que a obra vinha sendo executada normalmente. A pasta afirma que a construção da galeria de drenagem é feita com recursos próprios, o que dificulta o andamento.

Fonte: Tribuna do Norte

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