O Rio Grande do Norte tem o terceiro maior percentual de adultos inadimplentes no Nordeste, com 43,18% da população endividada. Na região, o Estado perde apenas para Pernambuco e Ceará que aparecem com, respectivamente, 46,30% e 46,48%. Em todo o país, quase metade da população enfrenta a inadimplência. É dentro desse cenário que o programa Desenrola Brasil, iniciado na última segunda-feira (17), pretende favorecer a renegociação de dívidas de mais de R$ 30 milhões de brasileiros na primeira etapa.
Os dados são do último Mapa de Inadimplência e Renegociação de Dívidas, realizado pelo Serasa, e correspondem ao levantamento de maio de 2023. Os números abarcam endividados adultos de uma maneira geral e não somente a população contemplada pela primeira fase do Desenrola Brasil. Conforme mostra a pesquisa, as dívidas com cartões de créditos junto aos bancos respondem pelo maior percentual da inadimplência por segmento, seguido de Utilities (21,45%) e Varejo (11, 31%).
Segundo o economista Janduir Nóbrega, embora o programa do Governo Federal estimule a renegociação de débitos junto às entidades participantes do programa e o consequente retorno do crédito para consumidores endividados, os devedores precisam estar atentos a variáveis como a taxa de juros, o planejamento financeiro e o compromisso de pagamento.
Na avaliação da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio) do Rio Grande do Norte, o programa é positivo para o setor produtivo e apresenta capacidade de amplificação de resultados a nível local. Isso porque, em Natal, os percentuais de endividamento (88,2%) e inadimplência (48,6%) superam as médias nacionais. “Por isso, ao mirar na redução do endividamento e da inadimplência, o programa dá um passo importante para a recuperação econômica. Ainda assim, vale ressaltar que o consumo também é afetado por outros fatores, como a inflação e os altos juros registrados nos últimos meses”, avalia a entidade.
Na primeira fase do programa, iniciada com o público da faixa 2, estão sendo atendidas pessoas físicas com renda mensal de até R$ 20 mil. Já na faixa 1, prevista para setembro, serão contempladas as pessoas com renda de até dois salários mínimos (R$ 2.640) ou inscritas no Cadastro Único para programas Sociais do Governo Federal. Em ambas etapas, poderão ser renegociadas as dívidas negativadas de crédito de 2019 até 31 de dezembro de 2022.
Na perspectiva de Janduir Nóbrega, ao buscar a adesão do programa, é necessário que os devedores estejam alertas aos reflexos das negociações a médio e longo prazo. “É preciso ter cuidado porque você tem um débito e ele será negociado. É preciso olhar para as taxas de juros que serão impostas neste processo e entender que a partir do momento que você negocia aquele débito, vai ter sua renda – que já está comprometida com outras coisas – com um compromisso no mínimo de médio prazo mensalmente”, esclarece.
Para os inadimplentes abarcados pela faixa 2, aponta o economista, as dívidas poderão ser parceladas em até 12 vezes junto aos bancos. Na faixa 1, o valor devido poderá ser parcelado para pagamento no prazo de cinco anos, seja com bancos, ou concessionárias (Ex: água, luz, telefone). Neste último caso, ele observa que os cuidados precisam ser redobrados devido à menor remuneração dos devedores que, na maioria das vezes, está comprometida com outras responsabilidades. “A solução desse problema perpassa o poder de compra e o de renda”, ressalta Janduir Nóbrega.
População sofre com acúmulo de dívidas
A perspectiva do economista projeta-se diretamente na realidade da população. O estudante Alexandre Vasco, de 19 anos, trabalha como vendedor na zona Leste de Natal e há dois anos não consegue ter acesso ao crédito. O motivo, aponta, está no acúmulo de dívidas que seu salário não acompanha. Assim como milhares de brasileiros, ele vai buscar reverter o cenário por meio do Desenrola Brasil. “É muito ruim [não ter acesso a crédito] porque, às vezes, a gente quer comprar algo e não está perto de sair nosso salário e precisamos esperar”, relata.
“Muito”. É o que Adriel Gomes, de 30 anos, responde ao ser questionado sobre suas dívidas. Panfletista no bairro Alecrim, ele ‘coleciona’ dívidas há três anos e relata ter atribuído novos débitos nos últimos meses. De acordo com ele, o problema está na falta de dinheiro para quitar os valores. Ao todo, o trabalhador precisa enfrentar a inadimplência com seis bancos diferentes e esperar avançar na solução com o programa do Governo.
Tribuna do Norte