As ruas movimentadas não fazem mais parte do cenário da Cidade Alta, em Natal. Portas fecharam, obras inacabadas e ausência de serviços públicos prejudicam o comércio. No Alecrim, o movimento ainda sobrevive nos camelôs – que, mesmo assim, ainda pedem mais atenção ao poder público.
O AGORA RN percorreu as principais áreas dos shoppings populares para entender a realidade do comércio local.
Segundo Emanuele Raquel, de 39 anos, que trabalha há 8 no camelódromo da Cidade Alta, entre as ruas Ulysses Caldas e Vigário Bartolomel, reclama da estrutura. “O movimento está muito fraco há um tempo. A Cidade Alta em si está com o movimento fraco. Então aqui, está do mesmo jeito. A Cidade não tem estrutura para receber os clientes, então eles preferem ir para outros lugares. Todo ano eles prometem uma reforma e melhoria, mas até agora está tudo do mesmo jeito”.
O vendedor Cledenilson da Rocha, o “Nilson Relógio”, ressalta que de um total de 447 boxes dentro do shopping popular, somente 40% ainda continua aberto. Ele afirmou que muitos comerciantes não podiam vender nas ruas e acabaram entrando nos shoppings populares. Agora, o movimento está tão fraco que muitos preferem deixar os pontos comerciais dos camelôs para ir às ruas.
“O povo faz aqui de depósito e vai trabalhar na rua. A gente ‘apanhou’ para vir aqui para dentro na época. Jogaram a gente aqui dentro, tiraram a gente da rua. Agora, estão deixando todo mundo voltar para rua e a gente aqui dentro está sofrendo”.
Cledenilson disse que mais investimentos na infraestrutura do local ajudariam a atrair a clientela. Ele cobrou melhorias: “Eles falam que chegou a verba e vão colocar em prática a reforma. Mas nunca acontece. Várias verbas já vieram para cá e não sabemos para onde vai. A melhoria que teve aqui, com muita luta, foram os banheiros. Mas a estrutura em geral, que é a parte que a gente precisa, a parte metálica do teto e o calçamento, nada. Até hoje nada”.
Ramon Cândido, que vende CDs e DVDs, ainda tem esperança que o movimento comercial dentro da shoppings populares voltará. “Está parado. Está 20% do que era antes. Mas tem como reverter, é só governo ajudar. Tem que fazer a estrutura, divulgar, e volta ao normal. Pode ser que volte até melhor que antes. Com o tempo as coisas vão se resolvendo. Só não pode ficar desse jeito”.
“É uma vida que eu tenho aqui dentro”
Há 28 anos no mesmo ponto comercial dentro dos camelôs da Cidade Alta, Lizanildo Antônio, de 61 anos, lamenta atual situação: “Já houve tempo bom, hoje, no momento, está ruim. Muita gente abandonou, infelizmente. Cada dia o comércio da Cidade Alta está morrendo. Eu ainda vendo que porque tenho uma clientela que compra. Mas tem gente que não tem cliente e que fica em uma situação difícil”.
Ele disse que não tem certeza de que a situação possa mudar: “Isso é uma incógnita. A gente nunca vai saber. No passado, quando tiraram a rodoviária da Ribeira disseram que iria melhorar. Se você chegar hoje na Ribeira, o mercado está morto. A Cidade Alta era um mercado bom, enquanto o Alecrim não era. Hoje, o Alecrim é bom e a Cidade Alta está morrendo”.
Obra na rua João Pessoa. Enquanto a obra de revitalização das calçadas não é finalizada na rua João Pessoa, a situação tem dado dor de cabeça e atrapalhado os comerciantes locais. Para o gerente de loja Sebastião Alves, 60 anos, a situação atual é reflexo do descaso e abandono do poder público com a Cidade Alta. Segundo ele, a obra está parada e isso influi diretamente na queda das vendas.
“Prejudicou mesmo em torno de 30 a 40%. Já estava fraco, porque caiu o comércio na Cidade. Caíram as vendas e o IPTU está alto. O município era para estar dando isenção de IPTU porque a Cidade de 10 anos para cá, acabou”.
Ele disse que atualmente a obra está parada e tem prejudicado os clientes que passam pelo local. “Eles não conseguem passar aqui. Acabou o movimento aqui. As pessoas não querem nem vir aqui mais. Eles têm que fazer logo esse recapeamento na rua, porque a obra está parada aqui”.
Outro problema constante é a falta de segurança: “De noite, o pessoal é arrombando loja. De manhã, os funcionários chegam às 7h e são assaltados. Está um negócio complicado. A gente só não fecha agora porque tem muita coisa para pagar”.
O taxista Marcos Aurélio, que trabalha na praça em frente à loja Riachuelo, afirmou que a obra tem atrapalhado a acessibilidade. “Caiu muito o movimento. Muitas lojas estão fechando e a reforma está atrapalhando. O pessoal que vinha ao banco, por exemplo, não está vindo mais”.
“Alecrim é coração pulsante”
Um dos comerciantes mais antigos do Alecrim e que trabalha com a família no camelódromo do local, José Anchieta, de 70 anos, afirma que o bairro precisa atualmente de um “banho”. Ele disse que melhorias na segurança, iluminação e limpeza pública são as principais necessidades da região.
“O Alecrim continua vivo e pulsando. Não está precisando ser reanimado. O que ele precisa é de um ‘banho’. Isso inclui melhorar a segurança, a iluminação, a limpeza pública. Por exemplo, as galerias fluviais estão todas entupidas. Isso não só por culpa do poder público, que faz mais de 6 anos que não faz manutenção, mas também da população”.
Segundo Anchieta, a relação com a gestão municipal é boa, mas precisa existir mais atenção com os comerciantes. “O relacionamento é bom, principalmente os que tratam com os ambulantes. Eles tratam com educação. Já houve turbulências no passado. Mas hoje não. Há um tratamento ‘amigável’. O secretário de Serviços Urbanos nos trata bem e nos recebe. Só acho que a gente merece um pouco mais de atenção. O Alecrim é um coração pulsante, que promove renda e recebe bem a população de Natal. Merecemos ser mais bem tratados, com um olhar mais humano”.
AGORA RN