Recusa familiar para doação de órgãos é de 70% no RN

O número de famílias que não autorizam a doação de órgãos dos seus familiares que estão em morte cerebral atingiu o percentual de 70% no Rio Grande do Norte. A informação é da coordenadora da Central de Transplantes do estado, Rogéria Nunes. Segundo ela, a taxa de negativa familiar para doação de órgãos é considerada alta.

“A Central do RN já atingiu o patamar de transplantes de antes da pandemia da Covid-19. Mas em relação às doações, ainda não atingimos o mesmo nível – ainda estamos bem abaixo. A cada dez entrevistas de familiares que fazemos, sete dizem não à doação – só 30% é revertido em doação, e o patamar do Brasil gira em torno de 46% ou 47%, enquanto a média mundial é de 60%. No RN, portanto, a negativa atinge 70%, é alto”, contou Rogéria Nunes em entrevista ao Jornal da Cidade, da 94 FM, nesta quinta-feira 31.

No Brasil, o número de famílias que não autorizam a doação de órgãos dos familiares saiu de 40% em 2019 e atingiu 47% em 2022, de acordo com o relatório anual da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO). Conforme Rogéria Nunes, a não efetivação da potencial doação costuma ocorrer justamente pela negativa familiar. “O que trava as doações são fatores religiosos, o tempo de espera, porque se você diz sim à doação, o corpo é entregue 24 horas depois. Então muitas famílias não querem esperar. Além disso, tem também a desinformação”, afirmou.

“Existe um estigma sobre doação, sobre validar uma morte encefálica. Mas no Brasil os critérios de diagnóstico de morte encefálica são muito rígidos. O exame é feito por dois médicos distintos, que não fazem parte da equipe de captação [do órgão], existe também um exame complementar que comprova que não há atividade no cérebro. A Central do RN ajuda na realização desses exames comprobatórios para validar o protocolo. Porque, no caso de doação, não pode haver dúvidas. Aliás, todos os familiares precisam estar de acordo com a doação”, complementou.

Rio Grande do Norte não faz transplante de fígado

O Rio Grande do Norte realiza transplantes de córnea, medula óssea, rins e coração. Porém, diferente de estados vizinhos como Paraíba, Pernambuco e Ceará, não realiza transplantes de fígado. “Realmente é uma demanda reprimida. Mas captamos fígados, e eles geralmente são enviados para estados vizinhos”, explicou Rogéria Nunes.

Segundo a coordenadora da Central de Transplantes do estado, o paciente do RN que precisa de um transplante de fígado é encaminhado para serviços vizinhos, como Pernambuco e Ceará, e é listado no estado designado. “É como se fosse morador desses estados e concorrem lá”, pontuou.

Questionada, a Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) informou que são vários os fatores que impedem a realização de transplante do órgão. “É um transplante muito difícil de ser feito, difícil de ter equipe qualificada”. A pasta disse ainda que existe a intenção de retomar os procedimentos, mas que é um “percurso longo até lá”. Sobre a quantidade de potiguares na lista de espera de outros estados, a Sesap não respondeu até o fechamento desta matéria.

Medula óssea

De acordo com Rogéria Nunes, o RN é o quinto estado que mais transplanta medula óssea no Brasil. “Neste mês, nós credenciamos a Liga contra o Câncer para fazer transplante, antes era feito somente no Hospital Rio Grande. Hoje temos 19 pacientes do RN aguardando um transplante de medula – esse é um número bom em comparação com a estatística nacional”.

O transplante de medula óssea é um tipo de tratamento proposto para algumas doenças que afetam as células do sangue, como as leucemias e os linfomas. “As pessoas se cadastram no programa chamado Redome pela internet, vai a um banco de sangue e deixa uma amostra no sistema. Os dados são cruzados com os dos pacientes que precisam de transplante de medula óssea. Se a compatibilidade for confirmada, a pessoa é chamada para doar”.

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