Natal já tem mais casos de dengue que no ano passado

O município de Natal lida com o aumento de notificações da dengue em seu território e uma adesão tímida à vacinação. A capital potiguar chegou a 1.318 casos confirmados da doença e superou o número registrado em todo o ano de 2023, que é de 1.241. Em paralelo a isso, até esta segunda-feira (8), 20,81% do público alvo da vacinação (entre 10 e 14 anos de idade) receberam suas doses. O percentual, conforme dados da plataforma Localiza SUS, corresponde a 9.687 pessoas, contra um público total de 46.549. No entanto, em relação às doses do imunizante, chamado Qdenga, enviadas ao município, a capital utilizou cerca de 51,5%. No total, o Ministério da Saúde enviou 18.806 no primeiro lote.

Os números de adesão mostram um comportamento influenciado por diversos fatores. O professor e epidemiologista Ion de Andrade acredita que a quantidade de imunizações no município é abaixo do necessário. Isto, para ele, está relacionado a uma cultura “antivacina”, disseminada e estabelecida entre parte das pessoas, bem como falta de preocupação com a doença, que, apesar de não ser conhecida como uma doença fatal, pode evoluir para casos graves e levar à morte. “Houve uma desmotivação proposital realizada por pessoas importantes, inclusive da área da saúde, contra isso, o que comprovadamente não tem sentido. A vacinação contra a dengue talvez exija um grau de consciência da sua necessidade maior do que a Covid. As pessoas podem estar em uma falsa sensação de tranquilidade. A Covid motiva medos muito mais claros, devido a pessoas que já faleceram por causa da doença”, afirmou. Ao complementar, Ion ressaltou que a Covid possuía 1% de chance de óbito em casos diagnosticados, enquanto a dengue também pode levar a morte em 1% dos casos graves.

Com pouco mais de 50% dos imunizantes disponíveis utilizados e o aumento do número de casos prováveis da doença, que chegou a incidência de 391,13 a cada 100 mil habitantes na cidade, levanta-se a possibilidade de uma alteração no público-alvo atual. O epidemiologista vê isto como uma alternativa, mas ressaltou que essa medida precisa ser realizada após estudos, os quais podem garantir a segurança e eficácia do Qdenga para faixas etárias diferentes. “Isso que tem ser visto a luz das possibilidades reais, por meio de estudos, para que não haja problema (na vacinação). Poderia haver uma expansão dos grupos, mas se deve ampliar para quem realmente precisa. Porém, cabe aos gestores esta tomada de decisão. Se eles apoiarem essa mudança, pode ser viável. É da alçada da gestão pública”, comentou. Questionada sobre o assunto, a SMS/Natal ressaltou que não existe a possibilidade de realizar a medida, pois esta é uma recomendação que deve partir do Ministério da Saúde e Governo do Estado.

Ion de Andrade ressaltou ainda que a conscientização é o principal recurso para mudar esse cenário. “O poder público deve reforçar a necessidade da vacinação e explicar qual é o perfil da dengue, para que elas entendam a diferença entre ela e a covid. Mesmo que as pessoas não tenham uma doença de grandes proporções, o risco ainda existe. Toda vida deve ser poupada”, opinou.

Ao longo da história, as vacinas foram fundamentais para erradicar ou diminuir a incidência de doenças, como a poliomielite e a varíola. Porém, no caso da dengue imunização e prevenção são partes complementares e igualmente importantes nas ações para diminuir os casos da doença. O epidemiologista concluiu com o alerta de que, sem a diminuição de criadouros do mosquito transmissor da doença, a situação não mudará. “É papel das pessoas vigiar o seu entorno para não permitir que os mosquitos estejam em acumulações de água. A vacinação pode nos ajudar a conter os casos graves na medida em que a sociedade e o poder público colaboram para evitar o surgimento de locais que possam difundir a doença.

Um dos pontos de imunização mais movimentadas da capital potiguar, a Unidade Básica de Saúde São João, localizada na zona Sul de Natal, oscila na quantidade de imunizações. Conforme apurado no local, o número de adolescentes vacinados diminuiu ao longo das semanas de março, mês em que os imunizantes foram disponibilizados em todas as unidades básicas de saúde da capital. Na primeira semana, a média diária era de 22 imunizações. Na última semana do mês, esse número reduziu para 11. Porém, na última semana, as imunizações chegaram a 25 e voltaram a crescer. Pelo menos 11 adolescentes receberam a primeira dose da Qdenga entre a segunda-feira (8) e quinta-feira (11).

Entre as quatro pessoas que trouxeram seus filhos e familiares para realizar a vacinação, a assistente administrativa e educacional Aldijânia Ribeiro trouxe o filho, Enzo Gabriel, de 12 anos, para se imunizar contra a dengue. Enquanto acompanhava Gabriel, ela mesma decidiu também se vacinar contra a gripe. Para Aldijânia, tomar a vacina representa cuidar de sua família. “Estamos vivendo um surto da dengue na cidade e em todo o país. Nós confiamos nesse imunizante, que tem anos luz de estudos. É muito importante para trazer as crianças para se vacinar. As vacinas salvam”, afirmou.

A conscientização passa pelos ensinamentos recebidos no seio familiar. Enzo Gabriel entende que uma “simples picada” pode trazer saúde, se vier da seringa, ou graves problemas, por meio do mosquito. “Hoje, foi uma prevenção para mim. Tem muitas pessoas morrendo e eu não quero que que aconteça nada grave comigo também. As coisas que a minha me ensinou foram importantes para mim”, afirmou.

Dados epidemiológicos
De acordo com dados disponibilizados pela SMS/Natal, foram notificados 2.941 casos prováveis de dengue. As notificações de dengue representam o maior volume, cerca de 92,3%, em relação ao número total de notificações de arboviroses em geral, que foram de 2.479. Os números abrangem registros do dia 31 de dezembro de 2023 até 30 de março (13ª semana epidemiológica), quando o último boletim foi publicado pela pasta. Nenhum óbito em decorrência do vírus foi confirmado na capital.

 

Tribuna do Norte

Foto: Reprodução

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