O azeite de oliva, produto indispensável na cozinha de muitos brasileiros, usado em saladas, pratos quentes e receitas especiais, tem se tornado um item cada vez mais raro na mesa dos natalenses. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que o preço do produto subiu 25,1% nos últimos 12 meses, considerando a inflação acumulada. Com garrafas de 500 ml ultrapassando os R$ 60, o azeite começa a ser visto como artigo de luxo, forçando consumidores a reverem suas estratégias de compra e consumo.
Nos corredores de óleos e azeites dos supermercados, o impacto é evidente. Consumidores afirmam que, diante da alta de preços, vêm mudando suas experiências com o produto. Para Sônia Rodrigues, dona de casa, a alternativa tem sido abrir mão do azeite: “Hoje em dia, é um item de luxo. Faz muito tempo que não compro. Não é sempre que todo mundo vai ter R$ 50 ou R$ 60 para dar numa garrafinha de 500 ml, então a gente acaba utilizando alternativas mais baratas como o óleo de soja”, diz.
Já Luzinete Nascimento, aposentada, continua adquirindo o produto, mas em menor quantidade. “É um produto que eu costumo usar, mas ultimamente tem sido bastante difícil a compra. Comprei um essa semana depois de muito tempo e a gente acaba até contando as gotas para economizar. O jeito é pesquisar para ver se a gente consegue algum desconto. Esse ano realmente aumentou muito. Gosto de usar na salada por questão de saúde mesmo. Meu filho é boleiro e às vezes usa para fazer salgadinho, mas é assim, muito contado”, explicou.
Enfermeira e atenta aos preços, Jaciara Melo recorre a promoções para economizar. “A gente tem que fazer pesquisa mesmo. Eu continuo usando, mas de forma mais moderada. Só compro quando acho uma promoção e tento economizar ao máximo. É um produto que, me parece, encareceu por problemas lá na Europa, e a gente acaba sendo penalizado. É muito ruim mesmo, acho que foi um dos produtos que mais teve aumento ao longo desse ano”, comentou.
O economista e professor universitário Janduir Nóbrega explica as razões por trás da alta significativa. Ele explica que países produtores do óleo vegetal, como Espanha, Itália e Grécia enfrentam uma crise. “Tivemos um problema climático, de quebra de safra, e isso reduziu a produção. Quando reduz a produção, consequentemente, a oferta diminui e, se o consumo se mantém alto, vai pressionar o preço para cima. É um problema não só no mercado local aqui, mas no mercado mundial”, diz.
O especialista também chamou atenção para outros fatores que contribuem para o cenário desfavorável ao consumidor. “Aliado a isso, tem a questão do câmbio. O câmbio aumentou muito e, consequentemente, vai levar os preços para cima. A outra variável é a questão da época do Natal, quando se usa muito esse produto, e há uma tendência de manter ainda mais o preço pressionado para cima”, analisou.
O professor ainda destacou o fenômeno de embalagens reduzidas e o aumento do risco de fraudes. “Agora já começa a aparecer no mercado azeite com menos de 500 ml, em garrafas menores, com o preço lá em cima, por R$ 40 a R$ 50. Ou seja, se não prestar atenção nessa formatação, o consumidor vai ser penalizado duas vezes: primeiro que vai comprar menos e segundo que vai pagar mais caro. A mesma atenção vale para o caso das falsificações”, alertou.
Mapa suspende marcas por fraudes
Em outubro deste ano, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) divulgou um alerta de risco para o uso de 12 marcas de azeite de oliva que, segundo a pasta, não atendem aos padrões de qualidade, sendo, portanto, consideradas impróprias para o consumo. As 12 marcas foram desclassificadas por fraude, após os testes realizados no Laboratório Federal de Defesa Agropecuária detectarem a presença de outros óleos vegetais, não identificados, na composição do produto.
Segundo o Mapa, a contaminação dos azeites comercializados pelas 12 marcas compromete a qualidade dos produtos e oferece risco à saúde dos consumidores, dada a falta de informações sobre a procedência dos óleos detectados. As doze marcas desclassificadas por fraudar seus produtos são Grego Santorini; La Ventosa; Alonso; Quintas D’Oliveira; Olivas Del Tango; Vila Real; Quinta de Aveiro; Vincenzo; Don Alejandro; Almazara; Escarpas das Oliveiras e Garcia Torres.
TRIBUNA DO NORTE
Foto: Magnus Nascimento