Aumento de casos de dengue pode ter justificativa ambiental, diz infectologista

O Ministério da Saúde divulgou dados que mostram uma alta substancial de casos de dengue no Brasil. Em Natal, o número de casos de arboviroses, que incluem dengue, chikungunya e zika teve um aumento de 67,8% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo o boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Em conversa com o AGORA RN, o médico infectologista Alexandre Motta falou sobre o quadro na cidade.

O médico reforçou a preocupação com os casos na capital potiguar. “A situação em Natal, eu acho que é preocupante no sentido de que há um aumento de número de casos no Brasil inteiro. As causas desse aumento no número inteiro do País ainda não estão muito claras, mas existem algumas inferências sobre o que isso poderia ser. O fato é que existem diversos casos acontecendo de maneira muito substancial em várias partes do país e Natal não é diferente”, disse.

Para exemplificar o nível da situação, o médico, que trabalha na UTI do Hospital Giselda Trigueiro, falou que fazia muito tempo que o hospital não recebia um paciente com dengue grave com necessidade de internação em unidade de terapia intensiva, e nesta última semana receberam. “Então, de fato, se para chegar na UTI, que é a fase mais alta do sistema, é porque na base deve estar acontecendo casos em número considerável”, explicou.

De acordo com ele, isso pode indicar uma sobrecarga do sistema e uma dificuldade de gerenciamento, já que o sistema já trabalha com a sobrecarga. Segundo ele, existem vários vazios assistenciais, fazendo que não seja possível atender nem o básico, então quando os casos aumentam, as UPAs e hospitais de referência se sobrecarregam e impossibilitados de oferecer melhor assistência.

Em relação ao crescimento no número de casos comparado ao ano anterior, o médico explica que pode existir uma justificativa ambiental. “O planeta tem aumentado a sua temperatura e nós, aqui, não estamos distintos dessa nova realidade. Claramente as pessoas têm se queixado de muito calor e, obviamente, o mosquito gosta disso. O mosquito gosta de água limpa, parada e ambientes com altas temperaturas. Então, você não tem dengue em países de temperatura baixa”, explica Alexandre.

O médico esclarece que nos locais onde a temperatura é mais alta, maior será a disponibilidade de água limpa e parada, então maior será a quantidade de casos de dengue. Ele ainda ressalta que esse será um problema que a humanidade passa a enfrentar com frequência, diante do avanço da temperatura que ocorre no planeta inteiro.

SINTOMAS DA DOENÇA

O infectologista aproveitou para lembrar que dengue é uma doença com um quadro já muito bem estabelecido e conhecido. “Então, as pessoas, quando tem dengue, elas têm três dias de febre e muita dor no corpo. O indivíduo costuma usar uma frase que diz assim, parece que foi atropelado ou parece que levei uma surra. E é uma dor na carne, certo? Não é uma dor nas articulações tão intensa como ocorre na chikungunya. Essa é a principal e grande diferença entre elas. Então, o indivíduo tem muita dor de cabeça, muita dor nos olhos, por trás do olho”, relembrou.

A partir do terceiro dia, o quadro de mal-estar e febre começa a diminuir e dão espaço para manchas no corpo que, no primeiro momento não coçam, costumam coçar a partir do quinto ou sexto dia. “E essa fase, quando some a febre, é a fase mais grave, porque o indivíduo começa a desidratar pra dentro dele mesmo. Ele perde líquido para dentro dele, e isso porque ocorre uma maior permeabilidade dos vasos sanguíneos, e a pessoa costuma desidratar”, elucidou o médico.

DENGUE HEMORRÁGICA

De acordo com ele, é a desidratação que pode levar a um choque hemodinâmico, ou seja, o coração ficar batendo com a pressão muito baixa, o sangue não circular e a pessoa vir a morrer. O infectologista ainda cita a dengue hemorrágica, que não possui sinais exteriores de sangramento, mas é possível notar através da pressão baixa.

“Com a queda muito acentuada da plaqueta, com os eventuais sangramentos, e principalmente com dor abdominal, o que significa dizer que o líquido que sai do sangue se acumula dentro da barriga da pessoa, provocando irritação do peritônio e dores”, explica.

Alexandre Motta chama a atenção para a hidratação do corpo. “Então, é ficar atento a estar bem hidratado, as pessoas têm que beber bastante líquido, estando com dengue ou não, não precisa ser grandes quantidades, mas quantidades pequenas, muitas vezes, e com isso, se manter hidratado”, completou.

Agora RN

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