Sangria do Gargalheiras e do Dourado garante água no Seridó

Treze anos depois da última sangria, o açude Marechal Dutra, em Acari, conhecido como Gargalheiras, voltou a transbordar, após uma recarga que durou apenas 42 dias. Foi a 30ª sangria em 65 anos. O ponto de transbordamento foi verificado às 23h15 de quarta-feira (03) quando atingiu 100% da capacidade, que é de 44,4 milhões de metros cúbicos. Durante esta quinta-feira (04), o famoso “véu de noiva”, ou seja a queda d´água na parede do açude atraiu moradores do Seridó e turistas, ávidos por testemunharem o espetáculo da sangria.

Com os reservatórios Dourado e Gargalheiras em capacidade máxima, a Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern) estima que o fornecimento de água para Acari e Currais Novos está assegurado pelos próximos quatro anos, mesmo sem novas recargas.

Segundo informações do Instituto de Gestão das Águas do Rio Grande do Norte (Igarn), antes do início da sangria efetiva e contínua, foram observados e compartilhados em redes sociais pequenos eventos nos quais a água escorria pela parede do açude. Esses episódios foram provocados por ondulações causadas pelo vento e por embarcações no reservatório.

O açude Gargalheiras é responsável pelo abastecimento da cidade de Acari e complementa o fornecimento de água em Currais Novos. Até meados de fevereiro, existia o risco iminente de escassez de água tratada nessas duas localidades devido ao baixo volume armazenado nos reservatórios. Em 15 de fevereiro deste ano, Gargalheiras e Dourado juntos possuíam menos de 1 milhão de metros cúbicos de água, levando o governo do Estado, em cooperação com a Codevasf (responsável pelas obras), a adiantar a construção do trecho 4-Norte da Adutora Seridó para garantir o abastecimento de 52 mil habitantes das duas cidades.

O Gargalheiras teve suas obras iniciadas em 1956 e concluídas em 1959, quando foi oficialmente inaugurado em 27 de abril daquele ano. Os registros históricos indicam que o reservatório transbordou nove vezes na década de 1960, sete vezes na década de 1970, cinco vezes na década de 1980 e quatro vezes na década de 1990. No século 21, isso ocorreu apenas cinco vezes, incluindo o evento atual de 2024.

Em janeiro de 2023, o Gargalheiras recebeu o reconhecimento como patrimônio cultural, histórico, geográfico, paisagístico, ambiental e turístico do Rio Grande do Norte. A área ao redor do reservatório é um dos 21 geossítios listados no Mapa Geoturístico do Seridó Geoparque Mundial da Unesco.

Previsão
No primeiro trimestre de 2024 choveu 454,3mm no Rio Grande do Norte, correspondendo a 45,2% acima da média esperada, que era de 313mm, para o período. As chuvas ficaram acima da média em todas as regiões do estado, sendo as regiões do Agreste Potiguar e Central Potiguar as mais chuvosas, com volumes de 57,9% e 56,1% acima do esperado, respectivamente. Os reservatórios monitorados pelo IGARN acumulam, até esta quinta-feira (04), 2,82 bilhões de metros cúbicos, o que corresponde a 63,36% da capacidade total de armazenamento.

As análises dos pesquisadores registraram um enfraquecimento do fenômeno El Ñino, o que favoreceu a aproximação e atuação da Zona de Convergência Intertropical- sistema meteorológico responsável pelas chuvas no Nordeste nesta época do ano – que associada ao aumento das temperaturas nas águas superficiais do oceano Atlântico provocou as chuvas.

Em comparação ao mesmo período de 2023, os primeiros três meses de 2024 foram ainda mais chuvosos. A média do RN no primeiro trimestre em 2023 foi de 391,8mm. A previsão de chuvas no Rio Grande do Norte para o próximo trimestre (abril, maio e junho) é de chuvas dentro dos valores normais, com acumulado mínimo para o período de 370,2mm.

 

Tribuna do Norte

Foto: Reprodução

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