m 2024, o Brasil está enfrentando um dos cenários mais severos de seca e queimadas dos últimos 44 anos, de acordo com levantamento do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden). Além disso, a crise ambiental já tem repercussões econômicas em diversas regiões. Embora o Rio Grande do Norte não esteja entre os estados mais atingidos diretamente pelos incêndios florestais, os economistas alertam que o estado poderá sentir os reflexos dessa crise no futuro, especialmente na safra do próximo ano. Açúcar, feijão, café, soja, carne, laranja, melancia e hortaliças podem sofrer aumentos.
As queimadas têm efeitos tanto no meio ambiente quanto na agricultura, prejudicando florestas, áreas de preservação e zonas agrícolas, o que provoca consequências em culturas essenciais para a economia brasileira, como frutas, soja, café e cana-de-açúcar. O comprometimento da fertilidade do solo e a possibilidade de novos eventos extremos, como a estiagem atual, são fatores que preocupam os especialistas. A junção dos fatores climáticos, ambientais e meteorológicos acende um sinal de alerta para a subida de preço dos alimentos.
O economista Thales Penha diz que a dificuldade no plantio devido à falta de chuvas e às queimadas em outras regiões pode afetar a logística e a distribuição de alimentos no Rio Grande do Norte. “Neste ano, já enfrentamos um período de estiagem, que resultou em uma colheita inferior à do ano passado. No próximo ano, haverá custos adicionais para recuperar as terras afetadas, o que demandará mais tratamento de solo, gerando um aumento de despesas para os produtores.
Algumas áreas podem se tornar impróprias para o cultivo, o que pode gerar custos no médio prazo”, explica.
Penha acrescenta que os efeitos deverão ser mais sentidos no setor de grãos e alerta sobre as mudanças climáticas. “O impacto será mais evidente no setor de grãos, especialmente no Centro-Oeste, que é a principal região produtora de grãos no Brasil, com destaque para a soja, o algodão e, em menor escala, a cana-de-açúcar em São Paulo. O grande risco atual para o agronegócio brasileiro está relacionado às mudanças climáticas. O Brasil, por estar em uma zona tropical, é uma das áreas que, segundo alguns estudos, será mais afetada pelo aumento das temperaturas e pela diminuição das chuvas”.
O economista Janduir Nóbrega diz que a combinação entre queimadas e estiagem é determinante para uma eventual alta dos preços dos alimentos. “Se tivermos um inverno mais seco do que molhado, o cenário se complicará. Isso vai gerar um impacto na produção primária. Ou seja, há uma probabilidade, hoje não muito clara, de uma redução na produção. Se essa redução for significativa, haverá uma tendência natural de elevação nos preços dos produtos, o que, consequentemente, impactará o desenvolvimento econômico como um todo”, analisa.
Produtos mais afetados
Um levantamento da Confederação Nacional de Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer) mostra que alguns alimentos já enfrentam impactos significativos no País, que refletem a escassez de oferta e os prejuízos causados aos produtores.
Entre os produtos mais impactados estão o açúcar cristal e o refinado. Com extensas áreas de cultivo de cana-de-açúcar destruídas por incêndios, o preço do açúcar disparou na Bolsa de Valores. Esse aumento afetará tanto o mercado interno quanto as exportações, que correspondem a 75% da produção nacional. O Brasil, sendo o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, também lidera as exportações do setor, que já somam U$ 8,69 bilhões este ano. Outro alimento que enfrenta elevação de preço é o feijão, cuja alta estimada pode chegar a 40% até o fim do ano.
A pesquisa da Conafer aponta que frutas como laranja, melancia e banana também estão sofrendo com aumentos de preços. Segundo análise da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a previsão de uma safra menor e estoques baixos devem prolongar a alta nos preços. Além disso, a falta de regularidade das chuvas comprometeu o crescimento das bananas, enquanto a produção de melancia, principalmente em São Paulo e Goiás, foi prejudicada por condições climáticas extremas.
O preço da carne bovina deve subir devido à escassez de pasto seco, o que força os pecuaristas a complementar a alimentação do gado com ração, elevando os custos de produção. No atacado, a arroba do boi gordo pode aumentar em 2,47%. O impacto será sentido também no preço do leite e derivados, como manteiga e requeijão. Outro aspecto a ser considerado é o aumento na demanda por outras carnes, como suína e de frango.
Tribuna do Norte
Foto: Elisa Elsie/release