A falta de informações sobre os prazos de operação das três estações de trem que compõem a Linha Roxa – que vai ligar a Região Metropolitana de Natal aos municípios de São Gonçalo do Amarante e Extremoz – tem gerado reclamações por parte da população que enfrenta dificuldades para se deslocar na área. Nesta segunda-feira (17), a TRIBUNA DO NORTE esteve em duas delas (Jardim Petrópolis e BR-101 Norte) e encontrou estruturas bem preservadas, mas sem indícios de quando poderão entrar em funcionamento. A chegada do trem à região irá representar um alívio para moradores e trabalhadores que precisam de maior rapidez, comodidade e economia na hora de transitar pela área.
A auxiliar de produção Eliene da Silva trabalha em frente à estação BR-101 Norte, na Guararapes, em São Gonçalo do Amarante. A situação para Eliene, que mora em Extremoz, só não é de transtornos porque ela utiliza o ônibus da empresa para chegar ao trabalho. “De alternativo, de Extremoz para cá a passagem é R$ 3,60 e de ônibus, custa R$ 4,85. Com o trem seria mais rápido e mais barato. Eu pego o ônibus da empresa para trabalhar, mas se não fosse isso, seriam necessárias duas passagens para ir e duas para voltar: uma até o centro de Extremoz e outra para chegar aqui”, detalha.
“Com o trem seria mais fácil porque, mesmo com a opção do ônibus do trabalho, quando a gente precisa de outros serviços, aí não tem jeito. Hoje, por exemplo, tive de ir ao médico. Então, vim trabalhar pagando transporte por aplicativo. O ônibus da linha demora muito e eu iria me atrasar bastante”, acrescenta a auxiliar de produção. A vendedora Gislaine Medeiros mora no bairro Jardins, em São Gonçalo do Amarante, região onde as estações BR-101 Norte e Jardim Petrópolis foram implantadas, e trabalha em Natal.
A parada de ônibus onde ela aguarda o ônibus para chegar ao bairro de Lagoa Nova, na zona sul da capital, está localizada bem ao lado da estação 101 Norte, a qual, apesar de aparentemente pronta, segue vazia. Gislaine desabafa que os transtornos para chegar ao trabalho são inúmeros. O tempo de espera pelo coletivo, frequentemente, segundo ela, chega a duas horas. Por causa das dificuldades, a vendedora decidiu que vai deixar o bairro.
“Vou de ônibus para o trabalho, mas nossa vida aqui é muito difícil em termos de transporte. E à noite é pior. É frequente a gente ficar duas horas esperando”, relata. Se tivesse o trem, ajudaria muito, porque seria mais uma opção. Aqui não existe sequer alternativo. Para cada região que a gente vai, acaba contando geralmente com apenas um ônibus. Sem falar que o trem seria mais barato. Gasto por dia R$ 9,70 (R$ 4,85 para ir e R$ 4,85 voltar do trabalho)”, descreve a vendedora.
A falta de perspectiva de chegada do trem tem frustrado a vendedora. “O pessoal veio, trabalhou na construção da estação, foi embora e até agora ninguém nos deu nenhuma previsão de quando o trem vai chegar por aqui. Se isso acontecesse, seria ótimo, porque poderia, pelo menos, nos ajudar a adiantar para que a gente chegasse a um local com mais opções de ônibus”, afirma Gislaine.
A copeira Maria Suerda de Araújo torce pela chegada do trem à comunidade. “No meu caso, como meu trabalho não é tão longe [no Hospital Maria Alice Fernandes, na zona Norte de Natal], enfrento mais dificuldades somente nos finais de semana e feriados, quando meu ônibus demora um pouco a passar. Mas se tivesse o trem para nos ajudar, seria melhor, porque eu ia gastar bem menos com passagem”, desabafa.
O vendedor Nilton Otávio, que mora e trabalha na região, diz que o trem poderia auxiliar as pessoas que precisam se deslocar nas redondezas, uma área de muitas fábricas. “Felizmente, para mim o trem não faz tanta falta, porque eu moro e trabalho aqui e tenho carro. Mas para quem não está nessa situação, faz muita falta. Quem mora em Ceará-Mirim, tem que pegar duas conduções, descer na Estivas e seguir para cá. Com o VLT eles viriam direto”, conta.
A TRIBUNA DO NORTE procurou a Companha Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) nesta segunda-feira para comentar sobre o andamento das obras. A CBTU informou que a empresa responsável fez a entrega provisória da obra e a equipe da CBTU analisa se todos os pontos do contrato foram cumpridos. A Companhia não deu prazos para finalizar a análise e nem especificou se a entrega incluiu a linha férrea e as estações.
Além das estações visitadas pela TRIBUNA, outra estrutura, a Bela Vista, integra a Linha Roxa, na divisão entre São Gonçalo e Extremoz. As obras das estações compõem o projeto de expansão da malha férrea no Rio Grande do Norte. O investimento é de R$ 100 milhões, recursos da União que incluem também a Linha Branca.
A construção da Linha Roxa teve início em setembro de 2021. Com aporte de R$ 18,7 milhões do Governo Federal, o empreendimento contempla a instalação de 4,1 quilômetros de trilhos e a construção das três estações. A previsão é que 2 mil pessoas sejam atendidas diariamente pelo ramal. A previsão de conclusão, conforme divulgado pela CBTU em 2022, era para fevereiro deste ano.
Já a Linha Branca inclui a construção das estações do Bonfim, São José de Mipibu e Nísia Floresta, que fazem parte dos trechos II e III, ao sul da Região Metropolitana. As duas etapas contam com R$ 51,6 milhões em investimentos federais e terão com 20 novos quilômetros de via. A estação Nísia Floresta, no entanto, segue, como mostrou a TRIBUNA no último fim de semana, sem prazo para operar. As outras duas já estão com o serviço em funcionamento.
Apesar do fim das obras – e da estrutura estar pronta para uso – a Companhia Brasileira de Trens Urbanos alega que a empresa responsável entregou as estações com problemas de segurança e na catraca. A empresa responsável não comenta o caso. Já o prefeito da cidade de Nísia Floresta, Daniel Marinho (PL), acusa a CBTU de atrasar o funcionamento da estação por “motivações políticas”. Para além dos motivos para o atraso, a população da cidade reclama da demora e torce pela rápida resolução do caso.
Tribuna do Norte