A ocupação média da rede hoteleira do Rio Grande do Norte na baixa estação, periodo que começa após o feriado da Semana Santa e segue até junho, ficou em 42% em 2023, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do RN (ABIH-RN). Segundo Abdon Gosson, que preside a ABIH no Estado, com exceção do período de pandemia, esta é a “pior baixa estação dos últimos anos”, levando em conta os números tradicionalmente registrados para a época, que giram em torno de 55% a 65%. Gosson afirma que o cenário é resultado dos efeitos provocados pelos ataques criminosos de março e pela falta de investimentos em estradas e infraestrutura. “Para se ter uma ideia, em junho passado, alguns hotéis registraram impressionantes 10% de ocupação”, pontua.
“O termômetro do turismo é a hotelaria e um hotel com menos de 50% [de leitos ocupados] não paga as contas. Essa nossa baixa estação foi muito ruim, diferentemente do Ceará e de Pernambuco, que tiveram uma situação melhor do que aquelas de outros anos. Isso é o reflexo do pós-pandemia, onde esperava-se que a baixa temporada, mesmo com movimento menor em relação à alta estação, fosse um pouco melhor do que nos anos anteriores. Mas aí, no nosso caso, vieram os atentatos terroristas, cujos reflexos são no médio prazo. Foi o que aconteceu e estamos sentindo agora”, frisa Abdon Gosson.
Em março deste ano, o Rio Grande do Norte sofreu com ataques criminosos que afetaram o transporte coletivo, prédios públicos e geraram uma onda de terror. Os efeitos foram sentidos já na Semana Santa, em abril, quando a ocupação da rede hoteleira ficou em 52% (a média para o feriado fica em torno de 70%). Além dos atentados, Abdon Gosson ressalta que a falta de investimentos em áreas que refletem diretamente no setor, também contribuem para o mau desempenho do turismo no Estado.
“Cheguei em São Miguel do Gostoso recentemente e encontrei pousadas que estavam sem hóspede a semana inteira. Em Pipa, observei a mesma coisa. A situação das estradas e da infraestrutura dos municípios é a grande responsável por esse cenário”, reforça. “A gente fala das estradas, mas é preciso ampliar o olhar para a estrutura das cidades. Não posso levar o visitante para um ponto turístico importante se os banheiros do local vão estar sujos, por exemplo. E os governos precisam investir em atrativos que fomentem a permanência do turista no local, como casas de shows, parques aquáticos”, argumenta.
A presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens no Estado (ABAV-RN), Michelle Pereira, diz que os reflexos da má fase também se estenderam ao mês passado. “Não me recordo de ter um julho, que em princípio é uma alta estação, com um fluxo de turistas tão baixo”, afirma. Habib Chalita, presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do RN (SHRBS-RN), explica que os impactos foram observados, inclusive, no comércio.
Chalita diz que é preciso planejamento e ações coordenadas para reverter o cenário atual. “O Alecrim fornece insumos indiretamente para Ponta Negra e todos os comerciantes reclamaram que em julho não se via turistas nas ruas. O turismo reflete na base da cadeia econômica popular, que é o comércio. O que acontece agora é reflexo do começo do ano, que não foi agradável para a imagem do RN. Nossa missão ainda para 2023 é diluir essa imagem com uma campanha massiva, mostrando que o destino voltou a ser seguro”, aponta.
Para Michelle Pereira, a questão da imagem está superada, embora os impactos tenham deixado marcas no setor. Ela cita que os altos preços das passagens aéreas têm influenciado na situação atual. “Nos meses após os ataques, sentimos que o turista não veio para cá, mas o fator primordial em julho foi o aumento das passagens. Estamos vivendo um momento muito difícil para a rede hoteleira”, diz.
Paolo Passariello, presidente da Abrasel no RN, avalia da mesma forma. “Essa questão [dos ataques] está mais normalizada, mas tivemos uma marca grande em cima de nós. Ponta Negra ficou vazia. Com a chegada da alta estação, minha esperança é que a situação deve melhorar”, prevê Passariello.
No ano, RN tem 7% de incremento no fluxo de turistas
O primeiro semestre de 2023 trouxe boas notícias para a indústria do turismo do Rio Grande do Norte, com um aumento de 7% no fluxo de turistas em comparação ao mesmo período do ano anterior. Além disso, se forem contabilizados somente os visitantes estrangeiros de janeiro a maio, o incremento foi de 96,5%.
De acordo com os dados do Sistema de Inteligência Turística do Rio Grande do Norte (Sírio), o número de turistas que visitaram o Estado atingiu um total de 1.256.262, impulsionando as perspectivas para o crescimento do setor.
Essa tendência de crescimento foi refletida na receita deixada pelos turistas. O valor gasto no destino, excluindo a hospedagem, atingiu a marca de R$ 418.058.847 no primeiro semestre de 2023, representando um aumento de 9% em relação ao mesmo período de 2022.
Além do aumento de turistas, foi observado um incremento de 5% no fluxo de passageiros via aéreo do Estado (entradas e saídas), totalizando 1.135.821 pessoas durante o primeiro semestre de 2023. A quantidade de voos também experimentou um aumento de 3%, atingindo um total de 8.651 voos (entradas e saídas) no mesmo período. Os principais emissores de passageiros para o RN incluem São Paulo (capital e interior), Brasília, Recife, Rio de Janeiro e Fortaleza, demonstrando a diversificação dos locais de origem dos visitantes que vêm para o Rio Grande do Norte.
O primeiro semestre de 2023 se mostrou propício para o turismo internacional no Rio Grande do Norte, com um aumento de 96,5% no número de estrangeiros que visitaram nossas terras de janeiro a maio deste ano em comparação ao mesmo período do ano anterior. Nos cinco primeiros meses desse ano, foi registrado um total de 29,5 mil visitantes estrangeiros.
Os principais emissores de turistas internacionais nesse período foram a Argentina, Portugal, Chile, EUA e Uruguai, apresentando crescimentos significativos em relação ao mesmo período de 2022. Os crescimentos registrados foram os seguintes: Argentina (+88%), Portugal (+396%), Chile (+76%), EUA (+9%), Uruguai (151%).
Natal perdeu opções de lazer ao longo dos anos
Abdon Gosson, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no RN, chama a atenção para o cenário na capital, que tem perdido atrativos ao longo dos últimos anos, na opinião dele. Gosson destaca que hoje o turista chega ao Estado e segue para outros destinos do litoral, ao contrário do que ocorria em tempos passados. “Antes o turista vinha para Natal e, apesar de fazer viagens para o litoral, tirava em média dois dias para aproveitar a cidade, especialmente a Praia de Ponta Negra”, diz.
Gosson critica a situação da praia e reforça a necessidade de execução da engorda, cuja licitação para as obras é prometida pela Prefeitura para ser iniciada nesta semana. “Ponta Negra está suja, com dezenas de ambulantes importunando os visitantes o tempo todo. A praia sofre com falta de limpeza e de segurança. A engorda até agora não saiu e, quando a maré enche, a água passa por cima das cadeiras. É uma situação terrível”, comenta Abdon Gosson.
Os problemas, no entanto, não se resumem apenas à região, porque faltam atrativos em toda a cidade, de acordo com ele. “Quantas casas de espetáculo nós temos hoje em Natal? Nenhuma. O que resta de antigamente é o passeio de buggy, que por si só não adianta. O passeio de dromedário praticamente não existe. Isso prejudica drasticamente o turista que aqui chega e fica com menos opções de lazer. São necessários incentivos para que os investimentos aconteçam, como isenções fiscais para quem montar uma casa de shows, por exemplo”, sugere.
Habib Chalita, do SHRBS, concorda: “Hoje Natal não tem nenhum atrativo turístico noturno. A capital tem apenas Ponta Negra, que está totalmente sucateada e insegura. Precisamos, urgentemente, criar alternativas, tanto diurnas, quanto noturnas para que o turista fique por aqui e gaste mais dentro da cidade”, afirma Chalita. Paolo Passariello, da Abrasel, também defende que haja investimentos em novos atrativos.
“O turista chega em Natal e vai para onde? A única coisa que ele pode fazer é comprar um all inclusive na Via Costeia ou ir para Pipa ou São Miguel, por exemplo. Natal tem uma situação de atrativo turístico que é péssima”, comenta Passariello. Já para Michelle, Pereira, da Abav, a situação de ampliação do nicho turístico é necessária em todo o RN. Ele destaca que, no caso da capital, a engorda de Ponta Negra deve ser prioridade.
“A engorda é um sonho. Sinto que quem já veio a Natal e ao RN, mas quer voltar, precisa ter novas atrações. Temos serras, turismo religioso, engenhos… são produtos que precisam ser intensificados para proporcionar uma diversidade de produtos e levar novas ofertas aos visitantes”, frisa Michelle Pereira. A TRIBUNA DO NORTE procurou as secretarias de Turismo de Natal e do RN para comentar o cenário atual, mas não houve retorno de nenhuma das pastas até o fechamento desta edição.
Tribuna do Norte